
O que é ser Fashionista?
Dia desses estava lendo na JUNIORº uma entrevista com Alexandre Herchocovitch onde ele trata a uniformização das monettes fashion que saem para as boates e noites gays quase sempre com o mesmo modelito (skinny+lenço no pescoço+nike), os ratos de desfile de moda que se infiltram nos mesmos e todas essas facetas do cenário gay e cheguei a uma conclusão: Temos que ter paciência com toda essa diversidade!
Não tenho um corpo sarado, aliás, está bem longe disso! Mas gosto de usar roupas que me caem bem e que tenham algo que imponha um certo respeito, pois infelizmente é comprovado que as roupas falam mais de alguém à primeira vista que mil palavras.
Quando olhamos uma mulher usando uma saia na altura da cintura cobrindo os joelhos e camisa branca e poucos acessórios, decidimos que ela é uma puritana; quando vemos um homem trajando terno e gravata, decidimos que ele é importante e assim vai.
Com os gays é pior ainda. Pelas marcas definimos quem é mais interessante, e quem não o é. Definimos e julgamos sim pelas roupas muitas coisas...
Certa feita namorei um rapaz que era lindo e maravilhoso, porém suas roupas eram um desastre. Começei a lhe presentear com algumas peças mais transadas e modernas, e ele as usava só quando estava comigo. Certa feita resolvi mudar completamente seu visual. Troquei todas as suas roupas e fiz um ensaio fotográfico muito sedutor. Consequência disso ou não, seu ego foi inflamado devido aos vários elogios que recebeu e acabei por perder o namorado...
Mas isso não é de todo ruim. Eu sou um fã absoluto de revistas de moda. Amo VOGUE, BAZAAR, MARIE CLAIRE, adoro ler a CARAS só para ver os vestidos que as atrizes estão usando em uma vernissage ou em uma entrega de prêmio...
Quando criança tinha a minha BARBIE a qual vestia com modelitos por mim criados e que eram maravilhosos demais. A imaginação era fértil de verdade naquela época. Não podia comprar roupas de bonecas então as fazia manualmente...
Usar a moda para nos expressarmos é algo muito divino e é maravilhoso, mas pode ser cruel.
Lembro-me uma vez em que estavamos eu, meu amigo Leon* em uma inauguração de um bar sofisticado em nossa cidade. Fui ao meu ver, vestido adequadamente. Vestia uma calça black jeans, um sapato preto clássico, uma camisa branca e um sueter listrado de preto e branco. Ao meu ver estava maravilhoso! Lá pelas tantas, meu amigo Leon, que esquecera até aquele ponto sua ponderação quanto à bebida e classe disse ao grupo de amigos que nos cercavam, ao perceber no mesmo recinto uma menina com um sueter igual ao meu...
_Isso que dá comprar essa blusa em saldão, todo mundo tem igual...
Claro que todas as monetes no momento riram e zombaram de mim, afinal de contas poderiam ficar um mês sem comer mas tinham de comprar a nova calça da COLCCI que foi lançada recentemente. Era compensador pra elas.
Pra mim aquilo foi uma facada, pois meu amigo Leon trabalha como designer de moda, e esquecera que muitas foram as vezes em que ele havia feito o mesmo: comprado sua blusa em uma loja de departamentos onde pelo menos outras vinte pessoas iriam possuir o mesmo gosto que você, mas iriam pagar pelo menos 1/4 do valor da mesma peça em uma loja de grife...
Senti-me como se o mundo parasse, e todas as dezenas de pessoas a minha volta me olhassem e precebessem que minha blusa, que até então era maravilhosa, havia se tornado repentinamente uma cópia barata de alguma peça. Pior, era ver aquela sapa feia, baixa e gorda usando a sua blusa... Mas, a noite estava começando e meu amigo merecia uma lição, a qual dei no mesmo momento:
_Comprei mesmo em saldão! O dinheiro é meu, não devo nada a você e espero que sempre tenha dinheiro suficiente para comprar roupas apenas em lojas de grifes famosas.
No fundo eu gritava: Seu maldito, desgraçado, invejoso, canalha... Mas não era essa a hora de falar. Retirei-me daquele capcioso grupo e fui conversar com alhguém que com certeza possui tanto bom gosto quanto eu: a menina da blusa listrada.
Conversamos muito, rimos muito, tiramos fotos com suas amigas e percebi que quem tem problemas com o mundo fashion, são os que se obrigam a estar sempre nele...
Passado algum tempo, meu orgulho me incitou a fazer algo maldoso. A grife onde meu amigo trabalhava acabou por vender algumas peças de suas coleções de bolsas e acessórios para a loja de departamentos em que eu estava... Não podia acreditar, comprar as peças da grife do meu amigo, ali na loja de departamentos...
Qual foi a minha decisão? Nenhuma. Não comprei a bolsa, pois pensei que essa atitude não valeria o preço que ia pagar (apesar de ser bem mais barata que na loja do meu amigo) seria o preço da minha consciência e essa não tem valor, e prefiro ficar de fora do mundo fashion, usando ou não minha blusa listrada.
Afinal de contas, quem manda no meu nariz sou eu!